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Unidade com a vida – Surendra Narayan

Unidade com a vida – Surendra Narayan

O crescimento espiritual e a busca do autoconhecimento são uma tarefa difícil, pois equivalem a tentar desvendar as coisas do espírito com os olhos da carne.

Pode-se encontrar instruções objetivas nos ensinamentos dos sábios. Eles afirmam que não se deve esperar progressos enquanto a pessoa estiver presa aos atrativos mundanos. Não se pode usufruir de ambos os mundos.

“As puras águas da vida eterna, claras e cristalinas, não podem se misturar às torrentes lamacentas das tempestades”. Não se pode alcançar as profundezas do oceano e observar suas _ belezas, enquanto se continua a nadar na superfície, buscando a vista da praia.

Mas a vida no mundo não é incompatível com a vida do espírito. O que é incompatível é a vida mundana – baseada somente nos sentidos. Muitos desejam ambos e reclamam da falta de progresso no caminho espiritual. Derivam daí vários tipos de problemas e desapontamentos.

Para se elevar ao espiritual, o apego ao material tem que ser abandonado. Já que o apego sugere da ilusão de uma identidade separada, o desapego significa mover-se com consciência para a percepção da totalidade. É um meio de autotranscendência e obviamente não pode seguir pari passu com a autoindulgência.

Ainda assim, não se pede que a pessoa leve uma vida de total abstinência. Nas palavras de N. Sri Ram, é preciso desenvolver “um estado de imaculada passividade sensitiva, passando pela experiência sem desejos”. A palavra “experiência” significa simplesmente passar por alguma coisa. Infelizmente, jamais passamos por alguma coisa sem levar uma marca dela. É essa marca que se torna um obstáculo.

As dificuldade e os perigos do caminho espiritual surgem da presença de um eu ainda ativo. Por isso os gurus alertavam os aspirantes a não tentar seguir adiante sem o preparo adequado, na expectativa de conseguir resultados cedo demais. Isso também se aplica a nós. Os estados de crescimento variam e aquilo que é útil em um estágio pode não servir em outro; pode até mesmo se tornar danoso ou estagnar o progresso.

O egoísmo e a presunção são mais danosos quando alojados nos princípios superiores do que quando associados aos princípios inferiores e ao corpo físico. A metáfora da escada ilustra isso: diz-se ao aspirante para não tentar colocar o pé sujo nem no mais baixo degrau da escada que leva à ascenção espiritual

O livro Luz da Ásia, de Edwin Arnold, fala sobre isso. Quando Gautama encontra Sujata, comearroz-cozido em leite adoçado, abençoa seu filhinho e pergunta a ele se apenas viver é suficiente – sé bastam a vida e o amor. Sujata diz: “O meu coração é pequenino, e um pouco de chuva que mal umedece o campo enche a copa do lírio.” Ela fala do seu trabalho diário, os cuidados com a família, a oração pela manhã e a visita ao templo à noite, a caridade e as boas ações; segue os ensinamentos dos livros sagrados, confiante de que aquilo que virá será bom.

Gautama então disse: “Mais sábio que a sabedoria é o teu saber simples. Ficai contente em não saber, sabendo assim, a teu modo, o que é certo e qual o teu dever; crescei, ó flor, com a tua doce espécie à sombra pacífica – a luz do sol do meio-dia não é para as tenras folhas que deverão desdobrar-se sob outros sois e elevar em vidas futuras uma cabeça coroada aos céus.”

O autoconhecimento é um estado de unidade com a vida. A vida espiritual começa a reluzir em pureza, liberdade, alegria e compaixão ilimitadas. Todos atingirão esse estado – alguns mais cedo, outros mais tarde. O progresso está nas mãos da própria pessoa, desde que haja um profundo impulso interior de seguir adiante.”

Surenda Narayana foi escritor e vice-presidente internacional da Sociedade Teosófica

Revista Sophia – Editora Teosófica

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