Logotipo Sociedade Teosófica

A cura através do amor – Clara Codd

A cura através do amor – Clara Codd

Este texto foi desenvolvido a partir de uma pesquisa médica intitulada A ciência descobre overdadeiro amor, que corrobora relatos pessoais que me foram feitos por dois médicos famosos, um nos Estados Unidos e outro na Austrália. Citarei alguns trechos desses relatos.

“Psiquiatras concluíram que a grande maioria das doenças mentais é causada por desamor. Psicólogos infantis, rivalizando por causa da alimentação programada versus alimentação de demanda, ou espancamento versus não-espancamento, descobriram que nenhuma dessas coisas faz muita diferença, contanto que a criança seja amada.”

“Sociólogos descobriram que o amor é a resposta para a delinquência; criminologistas descobriram que ele é a resposta para o crime. Médicos também descobriram que a promiscuidade sexual ocorre, na maioria das vezes, entre pessoas que foram privadas de amor”. Este último trecho lembra tanto o psicólogo Jung quanto J. Krishnamurti, que afirmaram não haver problema sexual que não possa ser resolvido pelo amor.

Os médicos de Chicago também descobriram que a alta percentagem de mortalidade nos orfanatos diminui quando as crianças são cuidadas por mães adotivas afetuosas. Na verdade, o “amor de mãe” são as plumas que forram o ninho dos ser humano; uma criança que não é amada fica aleijada emocionalmente, e frequentemente fica até mesmo atrofiada em seu crescimento físico. Esta é uma descoberta tão importante que somos forçados a indagar o que é o verdadeiro amor.

O artigo prossegue: “Este não é o amor tão comumente retratado em filmes e histórias. É o amor que Jesus ensinava; o mais simples, porém o mais complexo atributo do homem. Igualmente, o mais incompreendido. Segundo o Dr. Abraham Stone, de Nova Iorque, ‘o amor é o maior remédio, mas a maioria das pessoas, mesmo muitas daquelas que acham que são felizes no casamento, não sabem o que é o amor’.”

Podemos começar nossa pesquisa analisando o que o amor não é.

1. Amor não é possessividade. Não é transformar a outra pessoa à nossa própria imagem. Lembro-me de uma mulher que me disse que tinha desistido de uma amizade porque a outrapessoa não correspondia aos seus ideais. “Minha cara”, eu respondi, “por que alguém deveria corresponder aos seus ideais? É suficiente que as pessoas tentem ser elas mesmas”. Às vezes uma mulher casa-se com um homem fraco e tenta “reformá-lo”. Não pode haver equívoco maior. Lembro-me de um homem que me falou sobre seu desapontamento. Ele se casou com uma mulher vinte anos mais jovem, pensando que poderia “formar o caráter dela”, e, obviamente, descobriu que o caráter dela havia sido formado há muito tempo.

Esse tipo de amor é um tipo de amor-próprio, de presunção. Não é o verdadeiro amor. Segundo o dr. Overstreet, “o amor a uma pessoa não implica a posse daquela pessoa. Significa conceder-lhe, alegremente, o pleno direito à sua singular masculinidade ou femini­lidade”. Quantos problemas e quanta infelicidade são causados por mães, maridos, esposas e amigos possessivos! Essa é uma doença comum, e sua raiz está não no amor, mas no amor-próprio. Um grande número de pessoas pensa que ama alguém, mas tudo o que faz é se projetar sobre a outra pessoa.

Pais egoístas, que mantêm a filha cuidando deles, acham que a amam, mas na realidade só amam a si mesmos e ao conforto que a presença da filha lhes traz. A esposa ou marido ciumento não está amando seu parceiro, mas sofrendo de um ataque de amor-próprio. É exatamente isso que o ciúme é: não uma prova de amor, como popularmente se supõe, mas uma evidência de amor-próprio.

2. Amor não é dependência. Existe uma adoração verdadeira e uma falsa. O verdadeiro amor não agarra, não se enrosca em torno do ser amado. Não conta com o amado para realizar a sua felicidade e os seus desejos. Não considera o ser amado como alguém que deva retirar de seus ombros o fardo de tomar decisões, e que deva abrigá-lo de todos os contatos difíceis com a vida.

3. Amor também não é auto-sacrifício, embora possa às vezes requerer sacrifício. Mães superprotetoras, que sacrificam o seu tempo para mimar e paparicar os filhos, não os estão amando. Estão criando “aleijados psicológicos” para o futuro.

4. Admiração tampouco é amor. Um homem pode pensar que ama sua esposa porque ela é bela, talentosa, competente. Isso não é amor; é aprovação. Pode surgir até da satisfação de possuir um bem tão atrativo. Admiração não é amor. A bajulação frequentemente resulta do amor-próprio do admirador, na esperança de conseguir algo do ser adorado. Essa aprovação pode facilmente tornar-se ódio. Um herói pode ser destruído com a mesma facilidade com que foi adorado.

5. O amor não depende dos atributos do ser amado, mas da habilidade que a pessoa tem de amar. Se o amor dependesse das qualidades da pessoa amada, como poderia um cafajeste evocar amor sincero? O amor é um vínculo da alma, forjado em vidas passadas. Às vezes esse vínculo, se for muito falte, é reconhecido imediatamente; é o raro fenômeno do “amor à primeira vista”.

6. O amor não é sexualidade, embora possa glorificar e exaltar o sexo. Quantos homens e mulheres jovens se casam por um superficial impulso sexual, apenas para descobrir que se uniram a um estranho? Os “casamentos feitos no céu” são a união de duas almas que se conheceram e se amaram em outras vidas. Mas são raros. O outro caso é muito mais comum. O que fazer, então? Buscar conhecer o “estranho” e convertê-lo num amigo. Nenhum casamento pode durar se não estiver consolidado pela amizade, não apenas pelo sexo.

Segundo Krishnamurti: “Onde existe amor, o sexo não é problema. É a falta de amor que cria problemas. Quando você realmente ama alguém, você partilha com ele tudo que possui. Amar é ser casto. Somente o homem que ama é casto, puro e incorruptível. É somente para os poucos que amam que a vida de casado tem significado e é indissolúvel. O amor não é sensação nem pensamento. Quando o amor nascer você saberá como amar. Porque nós não sabemos como amar alguém; nosso amor pela humanidade é fictício. Quando você ama, não há um nem muitos, apenas o amor. Somente quando existir amor os nossos problemas poderão ser resolvidos, e conheceremos a bem-aventurança e a felicidade”.

7. O “amor de mãe” não é necessariamente amor. H. P. Blavatsky diz que o amor comum de mãe não está em um plano elevado. O dr. William Menniger afirmou: “A melhor coisa que os pais podem fazer é ensinar seus filhos a amar. Mas a única maneira de eles ensinarem a amar é pelo exemplo. As crianças devem receber amor, para que mais tarde possam doá-lo”. Nós não amamos nossos filhos simplesmente protegendo-os e suprindo suas necessidades. Um animal também faz isso. A questão é: até que ponto ratificamos nossas crianças como pessoas? O quanto respeitamos sua individualidade? O quanto lhes ajudamos a crescer de maneira independente? Às vezes as crianças são tão sufocadas, tão arrumadas, tão cuidadas, que ficam sem qualquer iniciativa ou motivação, e tornam-se pessoas problemáticas. Isso acontece mais com filhos de pais ricos do que com famílias pobres, que têm outros problemas, mas onde, pelo menos, as crianças são desde cedo postas em contato com a vida.

Aprendendo a amar

Os médicos e psicólogos concordam em que o amor deve ser apreendido, Ele não surge “naturalmente”, como se supõe, Krishnamurti diz: “Você não pode pensar a respeito do amor. Ele é um estado de ser.” Talvez em toda a longa peregrinação da alma exista apenas uma lição a ser aprendida: como amar. Pode ser que a perda e a separação aconteçam para nos ensinar essa lição, O que é a agonia de perder um ser amado? Podemos dizer, sem crueldade, que é em grande parte a dor da perda de sua presença confortadora, e que não estamos pensando tanto nela quanto em nós.

Podemos encontrar ou descrever o verdadeiro amor? Um dos grandes exemplos que temos é o de Cristo. Nos últimos encontros com Seus discípulos, Ele disse: “Um novo mandamento vos ofereço: que amem uns aos outros como Eu vos amei.” Santa Teresa de Lisieux meditou durante longo tempo sobre essas palavras, para aprender a amar as freiras suas irmãs assim como o Senhor amara Seus discípulos. Ela escreveu: “Agora sei que a verdadeira caridade consiste em suportar todos os defeitos do próximo, sem me sentir surpreendida com os erros, mas sentindo-me edificada com suas menores virtudes.”

São Paulo chamou esse amor verdadeiro de caridade, mas não a caridade superficial que consiste de esmolas, geralmente de pequeno custo para o doador. Caridade vem da palavra latinacaro, querido. É a qualidade da pessoa para quem todas as coisas são queridas. São Paulo disse que, sem esse amor, todos os dons do espírito ou da personalidade não têm valor algum.

O amor pode esperar e acreditar para todo o sempre. Pode acreditar no amigo quando ele tiver perdido a própria fé em si mesmo. O amor não inveja. Se invejamos um amigo, não o amamos realmente; ainda existe em nós excesso de amor-próprio. Francis Bacon escreveu: “Um amigo é alguém com quem nossas dores são divididas ao meio e as nossas alegrias são duplicadas. ”

O amor não se vangloria. O amor não é orgulho. É todo ge­nerosidade e humildade. Isento de egoísmo, o verdadeiro amor não pode ser outra coisa a não ser comedido e cortês. O amor é totalmente estável e fidedigno. Não é volúvel, não se altera quan­do encontra alteração. O verda­deiro amor é desinteressado.

O amor não é facilmente provocado; ele é lento para pensar no mal, rápido para perdoar. O amor não se regozija na iniquidade, e sim na verdade. A sinceridade é a marca do amor. O amor jamais tem motivos ocultos, duplos sentidos, aparência mentirosa. É completamente honesto e gentil.

O amor suporta todas as coisas, acredita em todas as coisas, tem esperança em todas as coisas, tolera todas as coisas. Suporta todas as coisas porque está convencido da justiça última. Acredita em todas as coisas com coragem e confiança infalíveis. Tem esperança em todas as coisas porque está consciente de que, no fim, o bem e a alegria devem vencer. Tolera todas as coisas com paciência divina. ‘A tolerância é a suprema qualidade, e a paciência é toda a paixão dos grandes corações”

O amor surge do conhecimento intuitivo da nossa eternidade, da nossa própria imortalidade. Uma das mais belas descrições do verdadeiro amor vem de uma escritura tibetana, e diz que há sete tipos de amor, três dos quais pertencem aos homens e quatro aos deuses. A primeira forma, e a mais inferior, é a mera atração magnética, como existe entre átomos e moléculas, planetas e sóis. Isso se exaure na união, assim como as polaridades negativa e positiva desaparecem ao se encontrarem. A segunda pode ser chamada de psíquica. Ela existe numa proporção de meio a meio: “eu te amarei se me amares, e lembra-te de que me deves algo por eu te amar”. Isso já traz as sementes da sua própria morte. A terceira forma de amor é difícil para os homens; ela tem que ser aprendi­da. É amar o ente querido de tal maneira que se deseje apenas o seu mais elevado bem, e em seus próprios termos.

Por não querer transformar os outros, o amor os transforma. Um amigo é um amante. Ele não dá sermões, não aponta defeitos, não condena; ele liberta. Você não pode ter as coisas das quais não abre mão. Você não pode ser livre das coisas que você retém. Reter é pertencer à coisa retida, é criar um vínculo. Aquilo que você liberta pertence a você. Você não pertence à coisa, pois você pertence ao amor. Todas as coisas abaixo do amor aprisionam, esmagam, pressionam, ferem. O amor é a realidade, é o libertador, o fazedor de milagres. Ao fazer os outros felizes, você lhes oferece o sabor do céu na Terra

Um significado para a vida

Há muitos anos, na Austrália, encontrei um grande psiquiatra que era diretor de um asilo para doentes mentais. Uma menina, que foi sua paciente e a quem ele havia curado levou-me para ouvi-lo falar na igreja presbiteriana. Era um homem profundamente religioso, e realizava curas verdadeiramente maravilhosas por meio do amor e da oração. Ele conseguia os mais surpreendentes sucessos com pessoas supostamente incuráveis, especialmente os esquizofrênicos. A raiz do problema dessas pessoas, conforme ele afirmou, era o fato de elas terem se desligado de qualquer significado real para a vida; a cura consistia em restaurar isso com amor, paciência e oração.

Nos Estados Unidos, um médico amigo relatou-me a experiência de outro psiquiatra que tratou um grande número de pessoas supostamente incuráveis, internadas num sanatório ao longo de dez a vinte anos. Quase todos foram curados. O método era muito simples. Entre os pacientes estavam aqueles tão perdidos que permaneciam imóveis e aparentemente alheios à realidade durante horas. Durante horas o psiquiatra permanecia junto a eles, derramando toda a sua afeição e simpatia. Depois de um certo tempo, ele começava a perceber uma pequena resposta. Daí em diante, passo a passo, ele levava essas almas perdidas de volta à luz e à felicidade. O mesmo efeito foi obtido pelo grande Hahnemann, o descobridor da homeopatia, que curou um famoso general que enlouquecera.

Consta das escrituras hindus que a cura involuntária acontece na presença de um homem consciente de Deus. Eu mesma vi dois exemplos disso na pessoa de Krishnamurti. Segundo algumas tradições esotéricas, todo iniciado é um curandeiro inconsciente, pois irradia o tempo inteiro a vida e o amor de Deus. O intenso amor humano também pode curar; o verdadeiro amor, não a vontade. O amor desinteressado, é redentor; é o verdadeiro significado da vida. Sem ele, todas as outras coisas perdem o valor.

“O amor vigia, e dormindo não dorme;

Quando fatigado, não está cansado;

Quando assustado, não está perturbado;

Quando sério, não está constrangido;

Mas como uma chama viva E uma tocha acesa

Ele sempre se eleva,

E com segurança passa através de tudo.

Quem quer que ame, conhece o apelo desta voz.”

(Thomas Kempis)

Revista Sophia – Editora Teosófica

Loja Teosófica Dharma

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *